terça-feira, 28 de dezembro de 2010

CRISTIANISMO DE RUA SEM SAÍDA*

Devido a um grande número de compromissos que precisam ser honrados até o final deste ano, tenho ficado sem tempo para escrever algo com a reflexão que preciso para tal, por isso compartilho com você um trecho muito interessante do Livro que estou lendo agora. Espero que possa lhe fazer o bem que tem feito a mim.


Deus te abençoe!


Por Bill Lawrence [1]


Infelizmente, em nossos esforços de controlar o que não nos pertence, muitos de nós buscamos o cristianismo de rua sem saída. Por onze anos nossa família viveu em uma rua sem saída composta de seis casas com seis famílias e um total de dezoito crianças. Era um lugar bom e seguro de se viver. Houve um tempo em que as crianças variavam de bebês a adolescentes. As mais velhas cuidavam das mais novas, e éramos praticamente uma grande e alegre família.


Todo dia quando chegava do trabalho, eu entrava bem devagar em nossa tranquila rua – nem a dez quilômetros por hora – porque nunca sabia o que poderia encontrar. Poderia haver um jogo de futebol americano ou uma brincadeira de rua acontecendo; uma mãe capturando uma tarântula num jarro de vidro; pais falando de esportes na entrada de minha garagem. Nossa pequena vila era um lugar maravilhoso para educar os filhos e criar família, mas não podíamos ficar lá o tempo todo. Cada dia precisávamos fazer compras, ir ao trabalho e realizar uma variedade de atividades da vida diária. Se insistíssemos em permanecer em nossa rua sem saída o tempo todo, logo seríamos incapazes de pagar nossa hipoteca, poderíamos morrer de fome ou de alguma doença. Precisávamos sair para o mundo a fim de garantir que nossa vila familiar permanecesse um ótimo lugar para morar.


A igreja é assim. É um lugar maravilhoso e seguro para as famílias, solteiros, viúvos, pessoas de negócios, enfim para todo tipo de pessoas que formam o nosso mundo. Mas precisa ser mais que uma vila, uma rua sem saída, um circulo familiar, ao qual voltamos depois de uma semana difícil, para nos juntarmos e desfrutarmos a presença uns dos outros. Quando pensamos assim, confundimos terra com eternidade e tentamos chegar ao céu cedo demais. No céu estaremos com apenas “nosso tipo de gente”, mas na terra Jesus nos chamou a sair de nossas belas e seguras igrejas para enfrentarmos o mundo tão cheio de pecados e cumprirmos com o seu propósito de fazer discípulos.


Síndrome da igreja de Jesursalém


Quando insistimos em ter apenas “nosso tipo de gente” na igreja, damos as costas ao verdadeiro propósito que temos para ela, tornando-a a igreja de Jerusalém do nosso tempo. A igreja de Jerusalém tornou-se egocêntrica, projetada para suprir as necessidades de seus membros com pouca ou nenhuma preocupação pelos que não conheciam a Cristo.


Mas não foi sempre assim. Depois de seu surgimento no Dia de Pentecostes, quando houve a conversão de três mil pessoas de diversas partes do mundo antigo, ela continuou a converter outros milhares de vidas. Paulatinamente, porém ela se deixou consumir por seus próprios interesses e começou a dar pouca ou nenhuma consideração para as pessoas que estavam ao seu redor, perto ou longe dela. Havia pouca preocupação em compartilhar o evangelho com os gentios, até que o Senhor dispersou os cristãos com uma perseguição.


Muitas igrejas americanas trilharam por esse mesmo caminho, que é o do consumismo e do “eu em primeiro lugar”. Muitas igrejas estão centradas em si mesmas, em suprir as próprias necessidades e mal parecem se preocupar quando ninguém vem a Cristo por meio de seus ministérios. Muitas igrejas se recusam a mudar porque gostam de si mesmas como estão. Elas não têm propósito de alcançar os incrédulos e rejeitam qualquer um que as chame para tal visão. Elas querem ser deixadas em paz, para que os membros possam “curtir” uns aos outros, administrar seu clube social religioso e viver às custas de uma herança de um passado de glória e influência. Como um atleta extrai sua auto-imagem a partir de seus troféus passados, mesmo que tenha ficado barrigudo e flácido, essas igrejas buscam sua identidade em seu passado e negam sua impotência espiritual presente.


Tais igrejas não querem visão; elas querem estabilidade. Oferecem todos os tipos de justificativas para aquilo que impede seus membros de se achegar aos outros. Elas não podem crescer porque não conhecem as pessoas que já estão lá. Elas não podem evangelizar porque ainda não conhecem a Palavra o suficiente. Não podem trazer outros para sua comunhão, porque ainda não resolveram todos os seus problemas. Muitos pastores me comentaram sobre a dor que experimentaram quando chamaram sua igreja à visão e foram rejeitados porque os membros queriam estabilidade, em vez de obediência.


Vida sem saída.


Cristianismo de vila é um tipo de vida sem vida, na qual o foco é inteiramente introspectivo, voltado para o interior da igreja. Quando a igreja de Jerusalém se tornou um beco sem saída, Deus a dispersou com uma perseguição e a forçou a buscar outros contra sua vontade (At 8.1). Por essa razão, na Antioquia, um grupo de pessoas desconhecidas começou acidentalmente a cumprir a grande comissão por meio de conversas com os gentios no mercado, iniciando, desse modo, uma das igrejas mais motivadas ao propósito de Deus em toda a história (11.19-21). Deus não quer que as igrejas sejam portos seguros para santos inseguros, mas faróis para aqueles cuja mente foi cegada pelo deus desse mundo (2Co 4.4). Deus nos chama para sermos pastores da grande comissão.


[1] Bill Lawrence é diretor executivo do Center for Crhistian Leadership e professor de Ministério Pastoral no Dallas Theological Seminary. Durante vinte anos, foi pastor na South Hills Community Church, em San Jose, Califórnia, EUA. Além de suas atividades acadêmicas, ele é atualmente pastor em tempo integral na Northwest Bible Church, em Dallas, Texas, EUA. Formou-se no Philadelphia College of Bible e obteve doutorado em teologia no Dallas Theological Seminary. Reside em Dallas com a esposa, Lynna.


* Extraído do Livro AUTORIDADE PASTORAL: Servindo a Deus, liderando o rebanho. São Paulo: Editora Vida, 2002. Autor: Bill Lawrence.


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