Um fato que deve ser combatido veementemente e substituído por uma
compreensão e consequente prática do senhorio de Cristo em nosso ministério
TEXTOS BÍBLICOS: At 20.24; 2Co 4.9,10; Fp 3.7-10
Por: Oswaldo Luiz Gomes Jacob*
É impressionante o número de pastores que se
autopromovem, colocam fotos na entrada do templo, apreciam o elogio e a tietagem.
Homens que gostam do pódio, de estarem no auge, bajulados e considerados
semideuses. A nossa natureza humana gosta dessas coisas. Essa é a síndrome
adâmica. É lamentável o número de obreiros antipáticos, arrogantes, sofisticados,
vaidosos e tomados de uma filosofia de autopromoção que me causa aversão.
A história da cristandade não foi construída
pelos que se arrogam alguma coisa, mas por homens e mulheres de Deus que a si
mesmos se humilharam diante da Majestade, Sublimidade, Grandeza e Soberania de
Deus. Toda vez que faço uma leitura da vida de Jesus, vejo-o como uma pessoa
totalmente despida de si mesma. Os profetas do AT, homens de Deus, eram muito
conscientes de suas próprias fraquezas. Destacamos Moisés, Elias, Eliseu,
Jeremias, Isaías, Zacarias, Daniel e Ezequiel. Já no limiar entre o AT e o NT,
vemos João Batista. Todos foram homens intrépidos e ousados, mas humildes em
sua expressão e no exercício dos seus respectivos ministérios, porque sabiam
quem era o que os havia chamado. Isso faz toda a diferença! A concepção que
faço de mim mesmo sempre dependerá da minha convicção de quem é Deus. A Pessoa
de Deus determina a minha pessoa. A visão de Deus é o que define a minha visão.
Olhando para a realidade do NT pós-Jesus,
destacamos a vida de Pedro em suas fases difíceis: Evangelhos (adolescente),
Atos (jovem) e Cartas (adulto). Depois, temos Paulo, o apóstolo abortivo. Nos
três textos lidos, percebemos a consciência amadurecida que ele possuía do Senhor,
de si mesmo e do povo a quem servia. No encontro com os presbíteros de Éfeso, o
velho apóstolo se despede a caminho de Roma. A sua despedida foi impressionante
e um lenitivo para aqueles pastores. Ele declarou peremptoriamente que a sua
vida não era mais importante do que a sua missão. Arrogar-se não fazia parte do
seu vocabulário cristão. Ele recebeu a missão do Senhor Jesus e estava disposto
a morrer por ela. Paulo era uma espécie de homem de Deus visceralmente
comprometido com a missão de proclamar o Cristo crucificado e ressurreto (1Co
2.1,2).
No texto aos coríntios (2Co 4.9,10), o
missionário Paulo declara: trago no meu corpo o morrer de Jesus para que a sua
vida se manifeste em minha carne mortal. Para ele, o viver era Cristo e o morrer,
lucro (Fp 1.21). A vida de Cristo era muito mais importante do que a sua própria
vida. Ele estava absolutamente absorto pela vida de Cristo (Gl 2.20). Havia uma
simbiose muito forte entre Paulo e Jesus. Paulo não estava preocupado com fama,
pódio, tietagem, propaganda, autopromoção. Não estava acometido pela síndrome
do pequeno reino. Era um homem desprovido de si mesmo, para viver a vida de
Cristo: Não mais eu, MAS CRISTO. Não mais o que penso... não mais o que
sinto... não mais o que quero... não mais as minhas opiniões... não mais os
meus desejos... não mais os meus sonhos... não mais os meus mimos...
Aos filipenses, ele foi fantástico. Ele, que
havia sido Saulo, que gostava de poder, pódio, reconhecimento, fama, confetes,
agora, é Paulo, que considera tudo isso como esterco para poder ganhar a Cristo
(Fp 3.7-10). Cristo era a razão de todas as coisas; a medida de tudo o mais; o
referencial absoluto. Paulo não possuía mais uma justiça religiosa, legalista,
mas a justiça de Cristo Jesus. Não mais a justiça da lei, mas a justiça da fé
(Hc 2.4; Rm 1.17). Não mais a justiça com base em desempenho pessoal, mas com base
na suficiência de Cristo na cruz e na ressurreição. Não mais mérito pessoal,
mas o de Cristo Jesus. Não mais sentimentalismo, mas uma vida pela fé.
Aprecio muito o que Aiden Wilson Tozer (um
dos meus autores preferidos) declara num preciosíssimo texto intitulado “A BÊNÇÃO
DE NÃO POSSUIR NADA”, comentando o texto de Jesus: Bem aventurados os humildes
de espírito porque deles é o reino dos céus (Mt 5.3):
“Nossos ‘ais’ tiveram começo quando o homem
forçou Deus a sair de seu santuário central, e deu permissão às ‘coisas’ de ali
penetrar. Uma vez dentro do coração humano, as ‘coisas’ passaram a imperar. O
homem, por natureza, não mais goza de paz em seu coração, pois Deus não se acha
mais entronizado ali: pelo contrário, na obscuridade moral da alma humana, usurpadores
teimosos e agressivos lutam entre si, procurando ocupar esse trono.
Dentro do homem há um coração empedernido
cuja natureza e intento é sempre possuir, possuir (coisas, fama, trono, pódio,
admiração, glória pessoal). O Senhor Jesus referiu-se a essa tirania das COISAS
quando disse aos Seus discípulos (Mt 16.24,25: Se alguém quiser...).
Não há duvida de que esse apego possessivo às
coisas é um dos hábitos mais daninhos da vida. Por ser ele tão natural e
generalizado, raramente é reconhecido como um mal, todavia, seus efeitos são
realmente trágicos.
Se queremos de fato conhecer a Deus em crescente intimidade, precisamos palmilhar
o caminho da renúncia”. (Tozer, 1985: 20-27).
Copiei,
na capa da minha Bíblia, a seguinte oração feita por um cristão da Idade Média:
“Ó Jesus, manso e humilde de coração,
ouve-me.
Livra-me, Jesus, do desejo de ser estimado,
Do desejo de ser amado,
Do desejo de ser exaltado,
Do desejo de ser honrado,
Do desejo de ser louvado,
Do desejo de ser preferido a outros,
Do desejo de ser consultado,
Do desejo de ser aprovado,
Do medo de ser humilhado,
Do medo de ser desprezado,
Do medo de ser repreendido,
Do medo de ser esquecido,
Do medo de ser ridicularizado,
Do medo de ser prejudicado,
Do medo de ser alvo de suspeitas.
E, Jesus, concede-me a graça de desejar que outros possam ser mais
amados que eu, que outros possam ser mais estimados que eu, que na opinião do
mundo, outros possam crescer e eu diminuir; que outros possam ser escolhidos e
eu posto à parte; que outros possam ser louvados e eu passe despercebido; que
outros possam ser preferidos em tudo, que outros possam tornar-se mais santos
do que eu, contanto que eu me torne tão santo quanto devo ser”.
Concluo,
citando a oração de Tozer:
“Pai, desejo conhecer-te, mas meu coração covarde teme desistir de seus brinquedos.
Não posso desfazer-me deles sem sangrar por dentro, e não procuro esconder de
ti o terror da separação. Venho tremendo, mas venho. Por favor, extirpa do meu
coração todas aquelas coisas que estou amando há tanto tempo, e que se têm
tornado parte integrante deste ‘viver para mim mesmo’, a fim de que tu possas
entrar e habitar ali sem qualquer rival. Então tornará glorioso o estrado dos
teus pés. Meu coração não terá mais necessidade da luz do sol, porquanto tu
mesmo serás o sol iluminador, e ali não haverá mais noite. Em nome de Jesus.
Amém.”
*Oswaldo
Luiz Gomes Jacob
é pastor titular na Segunda Igreja Batista em Barra Mansa, RJ.
Email: pitzerjacob@gmail.com
Artigo publicado na Revista Palavra & Vida
(Revista de Estudo Bíblico Trimestral da Convenção Batista Fluminense),
na seção Apoio Pastoral.
é pastor titular na Segunda Igreja Batista em Barra Mansa, RJ.
Email: pitzerjacob@gmail.com
Artigo publicado na Revista Palavra & Vida
(Revista de Estudo Bíblico Trimestral da Convenção Batista Fluminense),
na seção Apoio Pastoral.
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